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MÊS ABR 2012 - DIAS 14 - 21 - 28 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

LITERATURA É COM ELAS - PARTE III (28/04/2012)

Esta coluna apresentou nos dois últimos sábados comentários sobre as mulheres na literatura. Dando continuidade, esta semana será a vez de Lygia Bojunga Nunes e Lygia Fagundes Telles. Em nível de município os destaques ficam por conta dos trabalhos das escritoras Marianice Paupitz Nucera e Marilurdes Martins Campezi - entre tantas que merecem ser lembradas, pois abriram caminhos e desbravaram espaços que nos era tão limitado. Cora Coralina, Clarice Lispector, Cecília Meireles e Adélia Prado - nível nacional, Ana Almeida, Cidinha Baracat e Emília Goulart - nível municipal, já comentadas. Na próxima semana - encerrando esta primeira série feminina: Zelia Gattai (nacional), Rita Lavoyer e Wanilda Borghi (municipal).

Lygia Bojunga nasceu em Pelotas, a 26 de agosto de 1932. Iniciou a sua vida profissional como atriz, dedicando-se ao rádio e ao teatro, até voltar-se para a literatura. Com a obra 'Os colegas' (1972) conquistou um público que se solidificou com 'Angélica' (1975), 'A casa da madrinha' (1978), 'Corda bamba' (1979), 'O sofá estampado' (1980) e 'A bolsa amarela' (1981). Por estes livros recebeu, em 1982, recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio literário infantil, uma espécie de Prêmio Nobel da Literatura Infantil. O prêmio foi concedido pela International Board on Books for Young People, filiada à UNESCO. 'Os colegas' já antes havia conquistado o primeiro lugar no Concurso de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro (INL), em 1971, com ilustrações do desenhista Gian Calvi. Tem recebido reiterados elogios da crítica especializada, quer brasileira, quer estrangeira. No cenário brasileiro é tida por muitos como a sucessora de Monteiro Lobato por estabelecer um espaço em que a criança tem - através da liberdade da imaginação - uma chave para a resolução de conflitos, o que Monteiro Lobato fazia com maestria.

Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, a 19 de abril de 1923. Conhecer sua literatura é dar de cara com personagens interessantes, misteriosos. 'Ciranda de Pedra' é o seu primeiro romance (já havia publicado livros de contos), lançado em 1954, e causando espanto em alguns críticos, pela solidez das ideias. Em 1963 lança 'Verão no Aquário', vencedor do prêmio Jabuti. Seu terceiro romance, 'As meninas', é uma das obras mais conhecidas de sua carreira, que narra os desencontros de três garotas durante a ditadura militar. Lygia é uma escritora engajada e vive a questão do terceiro mundo, buscando em suas obras tocar nos assuntos que de forma suave ou mascarada, mas sem esconder a realidade da cena de seu país. Acumula os mais diversos méritos e em 2005 recebe o prêmio Camões, o mais prestigiado da língua portuguesa, pelo conjunto da obra.

A araçatubense Marianice Paupitz Nucera é aposentada da CEF, formada em Letras, contista, poetisa, cronista e atua atualmente é Coordenadora do Grupo Experimental, da Academia Araçatubense de Letras - e considera que começou um pouco tarde no campo das letras, mas acrescenta: 'Antes tarde do que nunca'. Mas, mexendo os rascunhos por aqui, encontrei que Marianice teve os seus primeiros poemas publicados no extinto jornal 'A Comarca', desde os anos de 1969. A autora gosta de falar das mazelas da vida, porque são tantas - e completa: 'Ninguém parece enxergá-las'.

Marilurdes Campezi - Lula, araçatubense, membro da Academia Araçatubense de Letras, gosta muito de escrever e acha necessário colocar para fora as suas leituras, repassando ao público o seu aprendizado através de seus escritos. Em seu livro 'Porta-retrato', publicado em 1995 pela Academia Araçatubense de Letras, nota-se o amor que a escritora tem pela nossa cidade, retratando bem a história de Araçatuba; na fala da acadêmica Cidinha Baracat, pode ser conferido: 'É preciso ver esse "Porta-Retrato", essa jóia da genial Lula. Quem nasceu aqui vai se deliciar e morrer de saudade. Quem chegou depois vai conhecer um pouco mais desta centenária senhora que, apesar de alguns pesares, ainda nos faz vibrar de amor e carinho por sua inesquecível história'.

Encerrando os comentários de hoje: 'Quem é essa Teresa? / A mulher que conseguira penetrar seu próprio mundo ouve a pergunta e, aos poucos reconhece a voz de seu analista. / Nunca vou saber, responde, mas estou certa de que minha alma de mulher é tão vasta e perfeita que nela posso abrigar todas as mulheres do mundo. / Está bem Teresa. Pode abrir os olhos. A sessão já terminou. Está de alta.' - do conto 'Tantas mulheres', de Marilurdes Campezi. - Simplesmente, simples!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 28/04/2012 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

LITERATURA É COM ELAS - PARTE II (21/04/2012)

Na coluna da semana passada comentei sobre as mulheres na literatura. Dando continuidade, prosseguirei com mais alguns comentários sobre estas mulheres que, desbravando as letras, construíram caminhos maravilhosos, criaram mundos encantadores - e precisam sempre ser lembradas, e não somente dentro das escolas, mas também nos veículos de comunicação.

Cora Coralina e Clarice Lispector - a nível nacional; Ana Almeida e Cidinha Baracat - araçatubenses de destaques na semana passada. Esta semana o enfoque está voltado para Adélia Prado e Cecília Meireles, e a escritora araçatubenses Emília Goulart.

Adélia Luzia Prado de Freitas, escritora e poetisa mineira, nasceu em Divinópolis, no dia 13 de dezembro de 1936. Sua obra recria com uma linguagem despojada e direta, frequentemente lírica, a vida e as preocupações dos personagens do interior de Minas. Aos 14 anos já escreve seus primeiros versos e no início dos anos 70 tem seus poemas publicados nos jornais de sua cidade e de Belo Horizonte. Sua estréia individual acontece em 1976, com 'Bagagem', livro que chama a atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo. Em 1978 escreve 'O Coração Disparado', com o qual conquista o Prêmio Jabuti de Literatura. Em 1979 publica 'Solte os Cachorros' e 'Cacos para um vitral' (1980) - prosa. O que mais chama a atenção na literatura produzida por Adélia Prado é a religiosidade embutida e/ou subentendida em seus textos. Ela trata e retrata as coisas do cotidiano com perplexidade, entendimento e pureza. Sua obra é atemporal, moderna, transformando em lúdico a realidade descrita, fazendo com que os fatos mais corriqueiros ganhem uma beleza poética de grande extraordinariedade. Na opinião de Carlos Drummond de Andrade, 'Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis'.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Por volta dos 9 anos começou a escrever as suas primeiras poesias, com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro 'Espectro' (vários poemas de caráter simbolista) - embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista. O gosto pela Literatura Infantil levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, em 1934. 'O Cavalinho Branco', 'Colar de Carolina', 'Sonhos de menina', 'O Menino Azul' - entre outros poemas infantis, nota-se a musicalidade - uma das principais características de sua obra. Faleceu em 9 de novembro de 1964, em sua cidade natal.

A escritora Emília Goulart nasceu em Buritama, SP. É membro do Grupo Experimental, da Academia Araçatubense de Letras. Teve a participação em várias coletâneas do Grupo Experimental e na coletânea 'Araçalinda e outras Lindezas' e coletânea do centenário de Araçatuba. Em 2004 publica 'Essa gente' (contos e crônicas, 2004) e 'O diário de Vó Lina' (romance datado de 2003 - e lançado em 07 de julho de 2011). Em um rápido papear com a escritora sobre o seu último livro, afirma que: 'A ideia nasceu, numa rodada de bate papo entre velhos amigos. Na ocasião notei que éramos estranhos para nossos filhos, eles nada sabiam sobre o nosso passado, como se isso não lhes interessasse. Mas, a consequência vem e este distanciamento vai produzir desconforto tanto aos pais como aos filhos. Um diário quase sempre guarda segredos, sentimentos e ressentimentos íntimos. Conflitos interiores preenchem páginas e páginas de diários do mundo inteiro.' Indaguei-a, ainda, sobre a contestação do personagem: 'O personagem contesta dois tempos: o de vó Lina e o atual. De modo geral, a sociedade e o preconceito são os alvos preferidos.' E, fechando o encontro que tive com a autora, perguntei sobre a mensagem do livro, completou respondendo: 'Que a verdade sempre prevalece. Ensinamento, não, mas se alguém captar desse livro alguma lição, ficarei muito feliz.'

Encerrado os comentários de hoje, cito os versos encantadores de Adélia Prado, do poema 'Impressionista: Uma ocasião, / meu pai pintou a casa toda / de alaranjado brilhante. / Por muito tempo moramos numa casa, / como ele mesmo dizia, / constantemente amanhecendo.' - Simplesmente, simples! 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 21/04/2012 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02. 

LITERATURA É COM ELAS - PARTE I (14/04/2012)

Estava a separar alguns textos para apresentar em sala de aula e, de repente, veio-me à mente: por que não dedicar parte destas escolhas a esta coluna? Melhor, dedicar a estas mulheres - pois estes eram de autoras - que nos fizeram e fazem mergulhar num mundo enigmático. Muitas vezes, este mundo, é tão introspectivo quanto o próprio entender o ser humano.

Separei alguns nomes - entre tantos - que merecem destaque a nível nacional (e também internacional - pois muitas possuem obras traduzidas para outras línguas), como Adélia Prado, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Cora Coralina, Lygia Bojunga Nunes, Lygia Fagundes Telles, Zélia Gattai. Mas não poderia deixar de citar as escritoras araçatubenses, tais como Ana Almeida, Cidinha Baracat, Emília Goulart, Marianice Paupitz Nucera, Marilurdes Campezi, Rita Lavoyer, Wanilda Borghi - para citar apenas algumas. E destas escolhi quatro nomes para fazer alguns comentários.

Falar da poetisa e contista Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas - Cora Coralina - que nasceu em 20 de agosto de 1889 e morreu 10 de abril de 1985, seriam necessárias muitas linhas, mas resumindo: doceira de profissão, considerada uma das principais escritoras brasileiras, viveu longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários; teve seu primeiro livro publicado no ano de 1965, quase aos 76 anos: 'Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais'. Em sua obra a autora aborda temas do cotidiano do brasileiro, em especial dos becos e ruas históricas de Goiás.

Clarice Lispector (nascida Haia Pinkhasovina Lispector) em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia e morreu no Rio de Janeiro em 09 de dezembro de 1977. Veio para o Brasil aos dois meses de idade e naturalizada brasileira - considerava o Brasil a sua pátria - e afirmava que não tinha nenhuma ligação com o local de nascimento. Em dezembro de 1943 publica o seu primeiro romance: 'Perto do Coração Selvagem'. Nas obras de Clarice se destacam o emprego intenso da metáfora, o fluxo da consciência e o rompimento com o enredo. No conjunto, essa técnica colabora para a visitação do mundo interior das personagens, sempre manifestado pela subjetividade em crise. A memória serve de elo condutor entre o subjetivo e o real, favorecendo à autoanálise, numa espécie de um contínuo denso de experiência existencial.

Das araçatubenses, começo com Ana Almeida, a poetisa dos sonhos - autora do blog 'Poetisa dos Sonhos', pertence ao Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras. Teve seu primeiro livro publicado 'Risos e Lágrimas' - poemas, ao vencer o Concurso da AAL, Prêmio 'João Scantimburgo', em 2001. Em seus relatos é possível perceber o amor à vida, à natureza, aos filhos - dos qual vale destacar o poema Filhos - 'Filhos do amor / filhos da alegria / filhos desejados / filhos muito amados // Filhos queridos / filhos carinhosos / filhos brincalhões / filhos inteligentes // Filhos educados / filhos briguentos / filhos rebeldes / filhos ingratos // Filhos zangados / filhos egoístas / filhos ignorantes / filhos... // Filhos não importam seus defeitos / amados de todo jeito / para as mães os filhos... / São perfeitos'.

Maria Aparecida de Godoy Baracat - Cidinha Baracat: professora, declamadora - que por sinal nunca esqueci 'Navio Negreiro', nasceu no ano de 1937, em Macatuba (SP) e veio para Araçatuba no ano de 1955. Ministrou aulas em várias instituições da cidade desde 1957. Recebeu, no dia 17 de dezembro de 1999, o título de cidadã araçatubense, concedido pela Câmara Municipal de Araçatuba. Ocupa, desde 12 de novembro de 1999, a cadeira n.º 20 da Academia Araçatubense de Letras, tendo como patrona a poeta Cora Coralina. Em 1998 publicou 'Ciranda de Vidro', livro de poemas e crônicas que recebeu o prêmio 'João de Scantimburgo', da AAL. Atualmente ocupa a presidência da AAL - Academia Araçatubense de Letras.

Destas maravilhosas mulheres citadas, cada uma com sua arte de escrever e convencer, muitas coisas me ficaram presas à mente quando as li - e jamais hei de esquecer. E, para encerrar, cito os versos de Cora Coralina: 'Se temos de esperar, / que seja para colher a semente boa / que lançamos hoje no solo da vida. // Se for para semear, / então que seja para produzir / milhões de sorrisos, /de solidariedade e amizade'. Simplesmente, simples!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 14/04/2012 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

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