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MÊS SET 2015 - DIAS 05 - 12 - 19 - 26 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

UMA CARTA LITERÁRIA (26/09/2015)

Como comentei na semana passada aqui na coluna, escrevo ainda esta semana sobre Literatura - e Literatura Brasileira através de cartas. Creio que muitos leitores entendem um pouco do que estarei falando nas linhas a seguir, e para os menos avisados, o assunto é as escolas literárias - ou seja, a divisão da Literatura.

Na última semana recebi algumas cartas - pois havia solicitado que me escrevessem relatando como aconteceram as escolas literárias no Brasil - mas da forma mais ficcional possível. E passo a relatar alguns trechos que chamaram a minha atenção.

Numa das cartas recebidas o emissor representou a escola literária através de uma mulher - e chamou muito a atenção como esta mulher, a literatura, foi abordada (a criatividade faz a diferença). Na outra o emissor posiciona-se como se estivesse vivendo cada período - na verdade, uma viagem pelo tempo.

Leia atentamente este pedacinho: 'a mulher por quem me encontro apaixonado é a personificação de nossas escolas literárias'. - muito interessante, não é mesmo? Um pouquinho mais à frente diz: 'a minha amada possui uma beleza interior que pode ser comparada com a beleza das deusas greco-romanas; na porta de entrada do seu coração bucólico estão pregados os dizeres "carpe diem", e isso é o que mais me encanta' - e encantou, também, os meus olhos! E lembra perfeitamente o trecho citado o Arcadismo.

Outra carta dizia assim: '(...) por vezes pensamos em largar tudo à busca de uma vida mais calma e serena, sem as grandes preocupações da vida moderna e fugir das pressões dos pais e da sociedade. A calmaria no peito, os pés sobre a grama e a cabeça lá no alto. Talvez até adotar um novo nome' - novamente o Arcadismo presente.

Outros dois trechinhos citados diziam assim: '(...) compreendemos que o mundo é terrível e chulo, e estamos imersos em mares de podridão, pois onde olhamos, notícias e mais notícias de corrupção e injustiças nos assolam. Para que possamos acabar com estes cortiços sociais, precisamos nos dedicar ao estudo árduo e construirmos um futuro melhor e honesto para a nação. Não ignoraremos os percalços e denunciaremos toda a criminalidade, e seremos morais e éticos' - nota-se neste primeiro trecho a presença do Realismo/Naturalismo. Observe este segundo trecho: '(...) por fim, romperemos com o tradicionalismo simbólico de tempos passados e renegaremos o branco da estética harmônica e perfeita; adotaremos uma postura mais liberal e modernista. Sabemos que essa vida de velocidade pode por muitas vezes nos forçar a algo, mas sabemos da infinidade de opções que temos agora' - e nestas palavras podemos ver muito bem a literatura do final do século dezenove e início do século vinte - Parnasianismo, Simbolismo, Modernismo - e este com toda a sua velocidade que, a cada dia que passa, acelera mais; modifica; quebra o que é considerado tradicional.

Foi tão gratificante quando li estas duas cartas - há outras também, mas prendo-me, neste momento, apenas a estas duas - e, para os mais curiosos e de plantão, são cartas produzidas por meus alunos, após uma conversa sobre as mesmas e solicitação que usassem muito o lado ficcional, criativo e - sem deixar de lado, o lado literário.

Já que citei que as cartas foram escritas pelos meus alunos, cito o nome deles, melhor, destas duas alunas: Bianca Luisa Pavan Porto e Júlia Beralde Gonçalves - e mais uma vez os parabéns aos textos produzidos.

Logo mais à frente encerrando estas linhas, o assunto Literatura muito me apaixona, muito me seduz - e é com tanta veemência que trago dentro de mim que tento com todo vigor passar aos meus alunos - e muitas vezes creio que não os toco - mas vejo nos olhinhos de alguns a emoção das minhas palavras tomando posse de seus corpos e mentes. E fica assim combinado que na próxima semana o assunto será outro... 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 26/09/2015 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02. 

FINAL DE UMA JORNADA LITERÁRIA (19/09/2015)

Depois de um mês de observação e os últimos quinze dias com maior intensidade, a 7ª Jornada de Literatura encerrou suas atividades - mas deixou sementinhas plantadas na área que estava destinada - e a este escriba só restou procurar novos ares, novos assuntos para os próximos textos.

Antes de encerrar este assunto, esta atividade que estive destinado a cobrir, vale ressaltar que o tema 'De leitor a navegador' é muito abrangente, logo, de se pensar muito - principalmente sobre os tais direitos autorais a que o autor tem direito. E tem direito e muitas vezes não é respeitado. Penso que, uma vez o texto on-line (sempre on-line), este está disponível a todos que acessam a rede. Então, como controlar?

Por outro lado há pontos positivos - principalmente para aqueles que não visam lucros (ou que não pensam em sobreviver da escrita). Entre os pontos positivos cito apenas um: divulgação do trabalho feito (o nome circulando na mídia). E, com um pouquinho mais de sorte, alguma editora poderá interessar pelo trabalho e contratar os serviços de escrita - direitos autorais efetivamente garantidos.

Voltando à última semana, vale ressaltar a participação do público nas atividades, nas oficinas, nas palestras. A presença de grandes nomes das letras deu um glamour diferenciado ao espetáculo literário - e prometeram, assim que possível, voltar. Encerrada a última noite (ontem), se reuniram numa salinha ao lado da Sala das Letras, a portas fechadas durante longos quinze minutos aproximadamente.

Todos que estavam fora - na Sala das Letras - ficaram curiosos, inclusive eu. E a pergunta era a mesma em todas as bocas: o que estariam os chefes das letras conversando? Fiquei meio esperto, assuntando, tentando adivinhar. Lá dentro reunidos estavam Machado, Rosa, Bandeira, Amado, Damazo e o Consa.

E nós comentávamos:

- Será que estão marcando a próxima Jornada de Literatura?

Outros, de forma um tanto maldosa, diziam:

- Estão marcando o próximo encontro, mas no além...

A porta de abriu e todos os olhares se voltaram para a salinha. Apressei-me, mas já era tarde. E, para nosso desapego, para nossa desilusão, apenas Damazo e Consa saíram sorrindo da salinha - os outros...

Os outros... Talvez os encontre no além, se tivermos merecimento, caro leitor. E, se não os encontrarmos - pelo menos eu, escreverei cartas pra Machado e ele terá que dizer a real história de Bentinho e Capitu, de Escobar e Sacha - e, afinal, quem era o pai de Ezequiel? Dúvida - cruel dúvida, eterna dúvida: tema do romance Dom Casmurro (de Machado de Assis).

Então, leitor, a realidade é dura! Sair dos sonhos e retomar as batidas do dia a dia não é nada fácil, mas é preciso. Vale lembrar: 'Vale a pena? Tudo vale a pensa / Se a alma não é pequena' - extraído do poema Mar Português, do grande escritor Fernando Pessoa.

E, fugindo um pouco dos sonhos, retornando à realidade, esta semana baixei um aplicativo no celular chamado Leitor - e nele encontrei os dois números publicados da Revista Trimestral Orpheu - com linguagem original, que marca o início do Modernismo em Portugal, de 1915.

E, pensando ainda em Literatura - e vou citá-la na próxima semana - por esses últimos dias recebi uma carta muito interessante falando dos períodos literários brasileiros - classifico-a de supimpa. Esta classificação a fiz por se tratar do que realmente gosto. Esta aborda os períodos literários brasileiros sem os citá-los. Simplesmente formidável!

Então, fechando estas linhas, o leitor já tem em mente o que vou abordar na próxima semana: a literatura brasileira contada através de uma carta... 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 19/09/2015 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.  

OUTROS VIAJANTES LITERÁRIOS (12/09/2015)

Interessante como cada um nota o modo de viajar. Os de mais idade têm um jeito diferente de observar a Literatura - e cada um com o seu modo de observá-la. E eu saindo da última reunião com os famosos escritores citados na última crônica, fui lentamente para casa pensando no assunto. E assim estou a pensar ainda.

Mas um fato chamou a minha atenção durante a semana que se passou. Retornei ao meu labor profissional e, por circunstância dos eventos que estão a acontecer na cidade, fui chamado por uma amiga de uma instituição privada para falar aos pequenos sobre a arte de escrever - mesmo sem estar devidamente cadastrado (este ano, com muitos problemas a serem resolvidos, não me candidatei a fazer palestras). Então, atendendo ao pedido, fui.

Chegando ao local tudo já estava preparado e, para minha surpresa, os que ali estavam me esperando eram os pequeninos - entre quatro a sete anos. Todos sentadinhos no chão, olhinhos vidrados, esperando por mim: apaixonei-me novamente pela vida! Olhei a cena e pensei rapidamente: tenho que falar a linguagens deles. E comecei - pedindo licença e sentando-me, assim como eles, também no chão. Olhos nos olhos!

Após um bom dia caloroso dos pequenos, perguntei se sabiam quem eu era e o que estava ali fazendo. Disseram que sim (a professora já os tinha preparado). E ter um escritor presente - naquele momento - era totalmente festa para eles. Foi tão grande a festa, o papear, que quase não consegui chegar ao fim com a minha história que premeditei contar naquele momento - todos tinham histórias para contar. Passeamos pelo tema da 7ª Jornada de Literatura: 'De leitor a navegador' - e quase todos sabiam navegar, mesmo que através de jogos educativos. E, finalizando o nosso encontro, levaram para casa um Informativo sobre a Jornada de Literatura.

Retornando ao meu lar, doce lar, fiquei a pensar: como eles gostam do calor do escritor! E eu, como escritor - mesmo que ainda considerado menor, como dizem por ai - também gostei do calor deles. E isso me leva (assim como qualquer um) a querer sempre escrever mais, sempre mais, sempre mais. E, voltando a minha realidade...

Voltei, dias depois, ao espaço Sala das Letras. E lá, por motivos circunstanciais - a 7ª Jornada de Literatura, alguns escritores do presente marcavam presença, como Ferrez, Gilmar Renato da Silva, Ricardo Botelho, Alexandre Staut, Reynaldo Damazio - que abordariam em suas palestras e oficinas o tema da jornada 'de leitor a navegador'. Também se faziam presentes alguns escritores araçatubenses - que visitaram as escolas municipais, estaduais e particulares, e que também lançariam seus livros.

Fiquei imaginando como seria o encontro de todos estes escritores no mesmo espaço - voltando ao mundo real: imaginei o Brito conversando com o Machado - ambos já chegados em dias, mas gastando o latim, principalmente o Brito lembrando os velhos tempos de seminarista. O Luceni, com seu modo todo especial, trocando mimos com o Amado sobre 'Capitães da areia'. O Damazo, com todo o seu vocabulário, papeando com o Rosa - um linguajar apuradíssimo! E o Consolaro, com seu jeito todo italiano, trocando ideias com Bandeira.

A dama, atentamente, observava tudo de sua mesa. Eu, um pouco mais ao lado, mais próximo a eles, observava tudo pra contar aos leitores - como faço agora. E com muita vontade de entrar na conversa, assim como outros que por ali circulavam. Mas, de certa forma, até senti receios por - talvez, ainda não estar pronto para um diálogo em tão alto nível - a nata de nossa Literatura. E creio que não fui o único...

Aos poucos fui me entrosando com a conversa - fui me achegando aos assuntos e, senti na fala deles que a melhor situação para o escritor, quando eles mais se sentem felizes, é quando o público prestigia os seus eventos, suas palestras, e ainda mais quando leem os seus livros. Olhei para dentro de mim e confirmei o que diziam: pois certa vez, ao publicar o meu primeiro livro, tive o prazer de vivenciar tudo isso. Logo, a felicidade se mostra plena. 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 12/09/2015 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.   

VIAJAR PELAS LETRAS (05/09/2015)

Desde a semana passada a cidade está recheada de visitantes literários, aliás, desde que liberaram a data para o acontecimento da 7ª Jornada de Literatura - pelo menos na cabeça deste que vos escreve - e de alguns alunos também, que são avisados por este cronista.

A semana que se passou, como relatei, desembarcaram por aqui os senhores Machado de Assis, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Jorge Amado - inclusive, estão presentes em camisetas estampadas que circulam pela cidade. E, por excelência, gosto de todos, mas todos os leitores têm preferência - eu também: Machado de Assis, principalmente pelo seu estilo.

E, depois do relato da última semana, resolvi passar de observador, relator, a participante meio ativo - digo meio porque este contexto social é um pouco individualista; e, relatar a vida alheia não é muito fácil, porém pode ser interessante e criativa. Interessante porque saber da vida do outro é o que o ser humano mais quer; criativo porque exige um bom manejo para não se comprometer - pois pode dizer coisas que não podem ser provadas.

E, pelo título em questão, resolvi partir dos que citei aqui na semana passada nesta coluna. Resolvi começar pelo senhor Machado. Aliás, Joaquim Maria Machado de Assis, que nasceu em 21 de junho de 1839, e faleceu em 29 de setembro de 1908 - nascimento, vida e morte na cidade do Rio de Janeiro. Casado com Carolina Augusta Novais - 1869-1904, e considerado o maior nome da Literatura Nacional. Fundador da Academia Brasileira de Letras.

Depois que os quatro conversaram bastante - refiro-me, caro leitor, aos citados no segundo parágrafo destas poucas linhas - aproximei-me calmamente e pedi licença, que fui prontamente atendido. Estenderam-me as mãos e os cumprimentei com muito gosto. Pediram-me que tomasse um lugar junto à mesa.

Senti-me um tanto constrangido, mas ao mesmo tempo importante. Constrangido por não chegar nem aos pés dos que ali estavam - pois conheciam, como ninguém, a arte de escrever. E importante porque estava tendo a oportunidade de estar ao lado deles, como estive certa vez ao lado de Ignácio de Loiola Brandão, em oportunidade rara de visita a Araçatuba - há certas coisas que não esquecemos na vida - e estar ao lado de Ignácio de Loiola Brandão, ouvir a palestra por ele proferida, tirar fotos ao lado dele no Teatro da Biblioteca 'Rubens do Amaral', foi algo muito significante.

Retomando o Machado em questão - e aproveitando a oportunidade de estar ali, pedi a palavra e questionei sobre sua obra Dom Casmurro. Fui direto ao assunto - se Capitu havia, ou não, traído Bentinho. Ele olhou-me com um olhar longínquo e respondeu-me calmamente que não me responderia nada sobre a minha pergunta, que apenas adiantaria: traição, ou não, não é o assunto primordial do texto.

Desse detalhe, prezado leitor, eu já tinha conhecimento. Acenei afirmativamente com a cabeça - discutir com o Mestre da Literatura... Impossível! Mas, ele vendo a minha, digamos, decepção, acrescentou:

- Não se perturbe, caro leitor, a minha intenção foi causar discórdia entre os leitores. Mas, adianto que, em breve, vocês terão o prazer de compartilhar comigo da minha intenção ao escrever esta obra.

Olhei-o atentamente. Os que estavam à mesa fizeram o mesmo. O olhar era indagador. Olhamo-nos mutuamente por alguns segundos. E Machado, calmamente, olhou um a um e, depois de alguns segundos (ou minutos), comentou:

- Deixarei essa dúvida para elucidar na eternidade - por enquanto vou deixando todos um pouco conturbados em seus pensamentos.

Rosa olhou para Bandeira, que olhou para Amado, que olhou para a minha humilde pessoa - que continuei a olhar para Machado, e para todos ao mesmo tempo... E assim o dilema continuará até a eternidade chegar... 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 05/09/2015 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.    

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