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MÊS SET 2011 - DIAS 03 - 10 - 17 - 24 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

REFLEXÃO PARA QUEM NÃO SOLICITOU VISITAS DE ESCRITORES (24/09/2011)

Na última quinta-feira, em uma das salas do MAAP - Museu Araçatubense de Artes Plásticas - aconteceu mais um encontro de escritores araçatubenses preocupados em aproximar, ainda mais, suas produções com o alunado araçatubenses, tendo em vista a 3ª Semana de Literatura.

A Semana de Literatura acontecerá entre os dias 13 a 19 de setembro, no Senac, onde acontecerão feira de livros, palestras, visitas de escritores, rodas de conversas, lançamentos de livros, oficinas literárias, a premiação do 24º Concurso Internacional de Contos 'Cidade de Araçatuba' - e a tradicional chuva de livros. E, desde ontem (sexta-feira), a cidade de Araçatuba já conta com visitas de escritores nas escolas e que se estenderá até o dia 12.

Estive presente na reunião e estranhei, como alguns presentes também estranharam, o fato de algumas escolas não serem citadas - ou seja, não se inscreveram para receber os conterrâneos em sua própria casa - e acompanhei de perto e sei que houve um longo espaço de tempo para que isso acontecesse. É um fato a se pensar.

É um fato a se pensar - e com muita seriedade - principalmente por parte dos senhores educadores que exercem a função de gerenciar uma unidade escolar e que neste momento 'pecaram' - ainda mais, tendo em vista que não havia custos. A presença do escritor seria um momento de desmistificação de que escritores não são apenas os já tidos como grandes nomes, desmistificar a imagem destes no 'altar' - mas que temos bons escritores - também de peso - aqui em nossa cidade. Escritores que estão preocupados com o registro e a representatividade de nossa cidade, como sociedade, na história das letras.

Fiquei a pensar ainda: como posso eu cobrar do meu aluno certas atitudes se eu - tendo a oportunidade, não a uso? Aliás, eu - como educador - tenho por obrigação de propiciar o melhor a estes, mesmo sabendo que poucos aproveitarão a chance dada. Mas, por outro lado, poderei dormir sossegado sabendo que perante a sociedade fiz a minha parte.

Logo, creio que este texto serve de alerta aos senhores e senhoras que exercem a função de educar, a função de - como representantes do Estado - oferecer o que tem de melhor. E, socialmente, valorizar o que a nossa cidade, Araçatuba, possui: pessoas capacitadas e com boas intenções em levar - mesmo que uma vez ainda ao ano, e em menos de duas horas - um pouquinho do que é Literatura, um pouquinho do que é escrever, do que é ler. Do prazer de ler. Mesmo que sendo apenas uma visita-convite - mas que poderá, por muitos outros meios, ser prolongado.

Quem trabalha com educação com um 'olhar diferente' - e realmente sabe o que é ver um pequeno ser em formação brigando com as palavras, não perderia por nada a oportunidade oferecida de mostrar a ele o que é um escritor em 'carne e osso'.

Por outro lado vale ressaltar que houve escolas que solicitaram duas, três e até quatro vistas: preocupação em propiciar ao aluno o encontro com um ser que, às vezes, podem até ser tomado como diferente - e realmente é! - mas que carrega, de certa forma, certa magia ao trabalhar com as palavras. E que na verdade é um trabalho duro, mas compensador!

Aproveitando, também, para ressaltar o trabalho dos escritores araçatubenses que compareceram à reunião e que mostraram disposição para efetuarem este trabalho sem nada receber: visitar as escolas chamando os alunos e professores para comparecerem e prestigiarem o evento, pois só assim se faz um povo culto. Monteiro Lobato escreveu: "Um país se faz com homens e livros.".

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 24/09/2011 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.   

SEMPRE BOAS LEITURAS (17/09/2011)

Esta semana estou a ler três livros de crônicas que entraram nos portões escolares: '50 crônicas escolhidas', de Rubem Braga, 'Crônicas para ler na escola', de Ignácio de Loyola Brandão (seleção de Regina Zilberman) e 'Crônicas para ler na escola', de Carlos Heitor Cony (seleção de Marisa Lajolo) e vou prender-me neste último a produção de hoje.

Lajolo faz a abertura do livro - que contém 49 crônicas, com a seguinte explicação sobre crônicas: 'Cintilações rápidas, elas fazem brilhar por instantes um episódio qualquer, cotidiano e corriqueiro. Um episódio que poderia fazer parte da vida de todo mundo. Coisinha de nada, um apelido, um bicho de estimação, uma fantasia de carnaval, o cronista escava da memória sua crônica e... pronto! Lá tem o leitor sua dose diária de sonho e de fantasia.' E, como estou mergulhado este final de ano no assunto - crônicas - estou, então, um pouco empolgado. E faço o convite aos leitores que acessem, por intermédio de seus filhos, estes livros - pois vale muito lê-los - é prazeroso!

Eu as li e algumas me chamaram a atenção, como a crônica 'Tentativas de explicação dos apelidos' - principalmente os apelidos aleatórios (e que alguns serão carregados pela vida afora!). Outra que também me chamou a atenção foi a crônica 'O buraco da memória'. O autor cita: 'Na infância, ficava intrigado: quanto mais terra tirava, mais terra havia. O buraco não acabava, a menos que eu fosse parar no Japão, que me garantiam estar bem embaixo do meu quintal, no Lins Vasconcelos, mas do outro lado do planeta. (...) Memória também é um buraco, quanto mais se tira matéria, mais matéria aparece.' E completa, ainda, citando Santo Agostinho: 'a memória era o ventre da alma'.

Pensei: temos quanto de memória? E ainda pensando cá com meus botões: quantas coisas podem sair de nossa memória se a escavarmos! E quando escavamos nossa memória que as mínimas coisas passam a ter sentidos notórios. Passam a ser valorizadas por nós. O cronista tem um olhar diferenciado sobre o mundo: das mínimas coisas tira-se proveito! O cronista, artífice das palavras, desenvolve essa sensibilidade a cada dia que pratica a sua profissão: escrever, relatar as coisas do cotidiano. É um registro da realidade, um registro da sociedade.

Continuando a leitura, há outras crônicas que me chamaram a atenção, como 'O batizado da bruxinha' - ironicamente uma conversão! 'A banalização do erro', 'Nostalgia das galinhas', 'A vaca virtual', 'Das vascas do meu avô' - uma reflexão sobre vida e morte, 'Anatomia das segundas-feiras' - que termina com os seguintes dizeres: 'Por tudo isso, acho que houve engano dos historiadores quando afirmam que Cabral avistou o Brasil num domingo. Deve ter sido numa segunda-feira.', 'Vizinhos e internautas' - onde é tratado o comportamento humano frente ao que chamamos de correria da modernidade, 'O morcego encantado' - meninos fantasiados de morcego (carnaval), e, fechando o livro: 'O mundo e o menino', de profunda reflexão e que o último parágrafo diz: 'Até o dia em que a menina me chamou para o porão da casa dela. Achei aquilo errado, mas fui. O mundo ficou mais complicado, mas também mais bonito.' - escolhas maravilhosas que deleitam o olhar.

Você, leitor, que gosta de ler textos curtos e que relatam fatos do cotidiano, tens um bom presente às mãos: leia-as e deleite-se na linguagem simples, no cotidiano expresso de forma diferente, na reflexão a partir de pequenas coisas. Lembre-se que a crônica, a partir do olhar diferenciado do cronista, tem esse poder!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 17/09/2011 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.    

ARAÇATUBENSE - E SUA PARTICIPAÇÃO? (10/09/2011)

Esta semana que se encerra Araçatuba viveu a III Semana de Literatura - sucesso nas atividades propostas, mas há alguns pontos que devem ser considerados - principalmente a participação do público. Aliás, onde estavam os homens e mulheres que se dizem 'das letras' em nossa cidade? Mas, antes de fazer comentários sobre o assunto, uma rápida passagem pela semana.

Na noite de abertura, dia 13 - terça-feira, aconteceu a premiação dos vencedores do 24º Concurso Internacional 'Cidade de Araçatuba' (contato com o livro de 'Contos Premiados') e apenas cinco premiados compareceram - pior: até araçatubense premiado não compareceu (e nem mandou representante) - é, ou não, de se pensar? Continuando, fez-se presente o escritor pernambucano Marcelino Freire, ganhador do prêmio Jabuti 2006, que falou sobre a produção de textos sucintos - tendo em vista as redes sociais, sua trajetória e seu contato com a poesia de Manuel Bandeira onde o fez querer ser escritor. Na segunda noite membros do Grupo Experimental fizeram noite de autógrafos, seguido da palestra do escritor Menalton Braff, prêmio Jabuti 2000, que falou sobre as 'Ciladas da Literatura Infantojuvenil'. Na terceira noite houve uma mesa de debates sobre o papel das bibliotecas na leitura. Ontem o ator Ayrton Salvagnini fez performance sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 e, hoje à noite, encerrando a III Semana, após a missa na Catedral Nossa Senhora Aparecida, às 20h30, Ayrton Salvagnini faz performance do 'Sermão da Sexagésima', do Padre Antônio Vieira. E vale lembrar, ainda, que em todas as noites os visitantes saíam do auditório do Senac com um livro na mão - além do contato direto com vários escritores e autógrafos.

Agora, voltando ao assunto deste texto - onde estava o público araçatubense nestes dias? Faço esta pergunta pelo simples motivo de o auditório ter muito lugares vazios - mas muito mesmo! Será que estavam em outro acontecimento cultural, ou trabalhando? (Se estavam em outro evento cultural - perdoados; alguns, provavelmente, estavam trabalhando - mas, e os outros? Aliás, muitos que ostentam títulos de literatos não se deram ao prazer de se fazer presente! Como cobrar dos outros? Ou, será que estou pegando muito pesado?) Comento aqui as palavras de Tarso José Ferreira, vencedor na Categoria Regional com o conto 'Amizade Sincera', ao receber o seu prêmio - 'é uma vergonha para Araçatuba quando olhamos este auditório'. Que imagem os nossos visitantes levaram de nossa cidade? E ele está certo - aliás, certíssimo! Tão certo que, parando, pensando, analisando: como cobrar da população se os que exercem direto (ou indiretamente) o exercício da escrita não comparecem em tais eventos? Passo (e penso), então a dizer, que a população é inocente!

Sei que muitos não pensam assim - e vão levando a vida. Mas precisamos nos engajar em movimentos de luta - não me refiro a luta armada, mas sim numa luta contra certas situações desconfortantes, seja esta social, política, econômica, entre outras. Quando disse, há duas semanas, que poucos educadores se preocuparam em receber escritores, alguns acordaram e me escreveram. Quando escrevo agora perguntando onde estava a população araçatubense - espero que esta acorde! Quando digo que os que se acham literatos não compareceram (com algumas exceções) - espero que também acordem. Ou seja, que apareçam, inclusive, para visitarem as escolas. Pois - que me perdoem todos - encontrei muitos escritores do Grupo Experimental - mas, e os de cima? Sempre os mesmos.

Cabe ao escritor, aquele que propõe registrar os fatos de uma sociedade, 'denunciar' a realidade que o cerca - e neste momento fico preocupado, assim como o Tarso José e muitos dos que lá estavam presentes, com os rumos da literatura araçatubense: será que, enquanto cidadãos araçatubenses, queremos homens e mulheres de nomes - com livros publicados apenas, ou cidadãos - mesmo que sem livros publicados, mas ativos? Pense!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 10/09/2011 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

LITERATURA - AÇÃO E REAÇÃO (03/09/2011)

Na última semana comentei aqui neste espaço sobre a 3ª Semana da Literatura em nossa cidade e também das visitas de escritores araçatubenses nas escolas na semana que antecede: poucas escolas solicitaram visitas - e obtive comentários interessantes - boas reflexões. Inclusive comentários de ilustres cidadãos de outras cidades.

Algumas escolas alegaram que não ficaram sabendo - como não? Pelo que acompanhei, houve alguns meios de divulgação: a própria Secretaria Municipal de Cultura - que promove o evento - enviou e-mails para todas as escolas, a Secretaria Estadual de Educação também enviou e-mails às escolas - através da Diretoria de Ensino, os veículos de comunicação também. Será que não estão lendo os e-mails? Ou, aliás, não sei nem o que pensar!

Por outro lado, algumas escolas 'acordaram' e mostraram que estão preocupadas e solicitaram visitas - encaminhei-as ao secretário da pasta. Outras, ainda, estão preocupadas em inserir em suas respectivas grades aulas de leitura - refiro-me à rede particular, pois na rede estadual já se faz presente: excelente ação! Mas muita atenção: não esquecer, senhores diretores e coordenadores, que o profissional tem que, além de ser da área, gostar muito de ler. E, se possível, de escrever. E, ainda se possível, de contar histórias. Melhor ainda a soma destes três elementos.

Um pequeno lembrete: aqui em nossa cidade há profissionais que estão propiciando cursos de 'contação de histórias' - alguns são gratuitos (oferecidos, por exemplo, pela Oficina Cultural 'Silvio Russo'), outros a preços acessíveis, basta querer se aperfeiçoar.

Voltando ao assunto em questão, a visita de escritores araçatubenses nas escolas, a escola em que trabalho - EE "Dr. Clóvis de Arruda Campos", o Paraisão - recebeu visitas de duas escritoras esta semana: terça e quinta-feira. E houve grande interação, participação efetiva por parte do alunado. Acompanhei de pertinho a visita; quando as agendei fiz questão de que estas fossem dirigidas aos alunos que trabalho - um público que varia entre doze e treze anos. Ali pude notar como os olhinhos destes brilhavam! O contato com o escritor (que é diferente do contato apenas com o texto - e alguns trabalhados em sala de aula) faz perceber que também são seres humanos - que não estão estes num pedestal, que não estão longe da realidade deles. Logo perceberam que também podem escrever. Naquele momento pude perceber que o nosso trabalho como professor, e/ou como escritor, pode mudar sistematicamente a cabeça deste cidadão em formação. Ainda estamos engatinhando neste assunto - uma vez por ano, mas já começamos!

Estiveram presentes as escritoras Ana Almeida e Anna Himel. Ana Almeida - a 'poetisa dos sonhos' - falou sobre a importância da leitura e da escrita, da arte da escrita - principalmente da poesia - e de nunca desistir dos sonhos. Anna Himel falou sobre contos, inclusive veio a caráter! - e comentou sobre o conto 'O gato na janela' - que receberá no próximo dia 13, no Senac, a menção honrosa em nível regional.

Fechando o assunto de hoje, as escolas que não participaram devem rever os seus conceitos, pois a Literatura causa ação e reação nos indivíduos e, para isso, também deve ser pensado que nós, educadores, somos formadores de opinião - e formar opinião começa por participar!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 03/09/2011 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02. 

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