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MÊS NOV 2010 - DIAS 06 - 13 - 20 - 27 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

MINHA CIDADE COM OLHAR DIFERENTE

Carlos Drummond de Andrade escreveu o texto poético intitulado 'A rua diferente', eu: Minha cidade com olhar diferente. Mas diferentes em muitos sentidos, em muitos aspectos - embora em âmbito diferente eu escreva e faça comparação, Drummond teve a felicidade de, apesar da oposição de alguns vizinhos, mostrar a alegria da filha.

Na rua de Drummond cortaram árvores, botaram trilhos, construíram casas. A minha cidade, Araçatuba, que completa cento e dois anos neste próximo dia dois de dezembro, fizeram um pouco diferente: também cortaram árvores (mas em parte fizeram o reflorestamento - não como devia, mas...); retiraram os trilhos que durante muito tempo levaram o progresso ao interior - colocaram-no em outra parte onde não se ouve mais o apito da máquina dado pelo maquinista; as casas, menores e sem os seus belíssimos jardins floridos e quintais carregados de árvores frutíferas, engaiolam o povo em agrupamentos chamados de conjuntos habitacionais.

Minha cidade acordou mudada - muitos não se conformam (e não é para conformar mesmo!), apesar dos anos passarem velozmente e a tecnologia adentrar os lares - e o poeta disse: 'Eles não sabem que a vida / tem dessas exigências brutas'. E como a exigência da vida é bruta, tão bruta que muitos não aguentam e pedem ao mundo para parar porque eles querem descer - mas como o mundo não para, eles param por conta e risco pondo fim penosamente em si próprio.

Na última estrofe o poeta diz que somente a filha goza do espetáculo; na minha cidade também, principalmente nas ruas dos bairros a meninada se diverte jogando pedrinhas (no lugar de burquinhas) nas caçapas existentes... Quão triste é ver e relembrar o título que outrora esta maravilhosa cidade teve: cidade do asfalto!

Mas, minha cidade - por outro lado - também possui coisas boas: principalmente o seu povo. Cidadãos que dedicam suas vidas na busca da melhoria na qualidade de vida, na melhoria da cultura, da educação, da saúde e de outros segmentos da sociedade. Cidadãos que votaram e acreditaram que estavam fazendo o melhor quando acessaram as urnas eletrônicas - mas que, como qualquer cidadão brasileiro, nunca desiste - e confia que dias melhores virão.

Não há de se acusar ninguém; acredita-se, o povo, que a boa fé existe em seus governantes - e ninguém quer ser pego pela Lei da Responsabilidade Fiscal; é necessário enaltecer, também, o que se fez de bom - principalmente na área que acompanho mais de perto: a cultura. Os cidadãos responsáveis pelo setor se empenharam de corpo e alma na busca de recursos, brigaram, discutiram e, pelo menos em parte, conseguiram apresentar bons resultados - e as apresentações teatrais é um bom exemplo (gratuitos e, quando não foi possível, a um baixo custo).

Falando ainda em cultura, fora do setor governamental, nesta última quinta-feira aconteceu na Câmara Municipal sessão solene anual da Academia Araçatubense de Letras onde foram entregues os certificados de premiação dos Concursos Literários de Crônicas e de Poesias, posse da nova presidente da Academia, a professora Cidinha Baracat - acompanhada de uma excelente palestra proferida pelo professor e doutor Romildo Antônio Sant'Anna, da Unesp, campus de São José do Rio Preto, intitulada "Moda Caipira e a Estética da Oralidade": uma verdadeira aula sobre as origens de nossa moda de viola. Ainda, na noite, o artista plástico Henry Mascarós entregou à Secretaria da Cultura, que repassou à Academia Araçatubense de Letras, o busto de Odete Costa Bodstein, para ser instalado em sua sede.

Somando tudo isso, a minha cidade - mesmo que interiorana, com problemas e diferente em partes da descrita por Drummond, já desponta culturalmente no cenário nacional, pois há nomes de peso que já estão aparecendo com seus trabalhos, como o espetáculo que merece destaque e está entre as três melhores em âmbito nacional: "As Aventuras do Rio Tietê" - que no início de dezembro estará em Brasília recebendo a premiação.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 27/11/2010 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.  

CONSCIÊNCIA NEGRA - EM BUSCA DE IGUALDADE

Hoje, vinte de novembro, feriado na cidade de Araçatuba, muito há de se comemorar: dia da Consciência Negra. Eventos acontecem pela cidade: no Teatro "Paulo Alcides Jorge" - ao lado da Biblioteca Municipal, a Pimenta Cultural Produções apresenta "Show Musical Canto Negro", com Silvia Teodoro - com entrada franca.

Tratando-se do dia da Consciência Negra, no último dia 16 de junho, após sete anos de trâmite e discussões, o Congresso Nacional aprovou a versão final do Estatuto da Igualdade Racial - um tempo razoável para se medir o problema da questão - e no dia 20 de julho deste corrente ano o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou - sem vetos, o projeto de lei que criou o Estatuto da Igualdade Racial, que tem por objetivo promover políticas públicas de igualdade de oportunidades e combate à discriminação.

Observando um pouco a panorâmica mundial, após sangrentas guerras (principalmente após a Segunda Guerra Mundial - onde predominou a ambição humana), os países vencedores reconheceram a necessidade da criação de uma associação de países que lembrassem constantemente ao mundo que nenhum objetivo ou ambição (de pessoa ou de grupo social - ou país) justifica o desrespeito aos seres humanos: foi criada a Organização das Nações Unidas - ONU. E, em 10 de dezembro de 1948, num conjunto de trinta artigos, foi publicado a Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde foi assinada por países do mundo inteiro, inclusive o Brasil.

Em seu Artigo I diz "Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade."

Segundo alguns dados do IBGE (publicados na Revista Guia do Estudante 2011 - distribuídos nas escolas públicas de São Paulo), em 2010 o Brasil passa a ter a maioria de sua população negra (isto porque a conscientização está mais presente), mas ao mesmo tempo constituem a parcela que enfrenta maiores problemas socioeconômicos; no passado (não muito distante: 1890 - dois anos após a abolição da escravatura pela Lei Áurea), a maioria também era negra: 56% dos moradores em território nacional. Mas, por volta de 1940 os negros representavam menos de 36% da população porque imigrantes vieram de outras partes (principalmente da Europa) para trabalhar nas lavouras - substituindo a mão de obra escrava. Mas, com esse fator, intensificou a marginalização econômica e social dos ex-escravos.

Olhando de forma atenta, é possível uma retomada a partir do momento em que os governos começam a olhar esta parcela da população de forma diferente, com programas específicos, como: criação do Sistema Nacional da Igualdade Racial (Sinapir - para tratar das medidas voltadas para a população negra). Somados a isto, pode-se dizer que a diferença na expectativa de vida entre negros e brancos caiu significativamente, diminuição na taxa de mortalidade, no analfabetismo - principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Mas permanecem, ainda, os problemas de emprego e renda - sendo que este último é significativo em seus resultados.

Esse último dado - emprego e renda - leva a uma pergunta que nunca se cala e que está fixada no Artigo XXIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. (...)" - mas, é sabido que não é assim: até quando vamos dormir com este pesado fardo?

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 20/11/2010 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

UMA RÁPIDA PASSAGEM PELOS ANOS REPUBLICANOS

Na próxima segunda-feira, dia quinze de novembro, data-se cento e vinte e um anos de que o marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República, passando o Brasil a ter um regime republicano - deixando de ser monarquista. Na ocasião, na Praça da Aclamação (hoje Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro - capital do império, passou o país a ser designado de Estados Unidos do Brasil.

O então imperador, D. Pedro II, estava na cidade de Petrópolis e só ficou sabendo no dia seguinte ao receber uma carta avisando o ocorrido e pedindo que ele e a família real deixassem o país - tentou uma reconstrução ministerial, mas viu que não havia como, desistiu e seguiu exílio para a Europa. Mas, no dia quinze de novembro, à noite, instalou-se o primeiro governo provisório, tendo como primeiro presidente o marechal Deodoro da Fonseca, vice-presidente marechal Floriano Peixoto. Mas, olhando politicamente a instalação da República, nota-se que vários fatos levaram à queda da monarquia, tais como: atritos com a Igreja (a Igreja Católica era submetida ao Estado, mas os Bispos de Olinda e de Belém do Pará resolveram seguir a ordem Papal, deixando de lado as ordens da Monarquia - foram punidos por esta a quatro anos de serviço braçal - quebrar pedras, sendo posteriormente perdoados, graças à intervenção de Duque de Caxias junto ao Imperador - mas o fato levou a monarquia a perder prestígio perante a igreja); perda do apoio político dos grandes fazendeiros com o fim de escravidão no Brasil (1850 - abolição do tráfico negreiro; 1871 - Lei do Ventre Livre; 1885 - Lei dos Sexagenários; em 13 de maio de 1888 - Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, que colocava fim no trabalho escravo no Brasil); questão militar (os militares sentiam-se inferiorizados, menosprezados pela monarquia - mas aos olhos da população ganhavam prestígios), logo, a soma de tudo levou ao Brasil que se conhece hoje: um Brasil ainda em busca de sua própria identificação social, econômica e política.

A República - um sistema de estados confederados (hoje 26 estados e um distrito federal) - foi aos poucos se estruturando. Entre os primeiros passos tomados podem ser citados: a determinação da criação da nova bandeira, a estruturação dos três poderes, sendo o executivo (exercido pelo presidente da república, pelos governadores dos estados confederados e pelos prefeitos), o legislativo (exercido pelos deputados federais e senadores em âmbito federal, pelos deputados estaduais e pelos vereadores) e o judiciário. E os anos passaram, e a Capital Federal passou a ser a cidade de Brasília (1960); os presidentes também passaram - e até alguns ditadores subiram, ou melhor, tomaram posse do poder; houve, também, mudanças na Lei Magna: 1988, data-se a última - e no próximo ano uma mulher subirá ao poder e tomará em suas mão as 'rédeas' da nação brasileira: Dilma Rousseff, eleita com mais de 56% dos votos válidos.

Retomando as ideias republicanas - ou melhor, falando-se do povo brasileiro que 'nunca desiste', espera-se este que nos próximos anos a realidade sonhada - e em parte vivida nos primeiros anos de república e nos últimos dias - continue a se realizar e, de preferência, de forma mais concreta - pois as promessas ficaram registradas: combate à pobreza e a miséria do país - ou seja, a busca de um país mais justo.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 13/11/2010 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02. 

SERÁ QUE ACABOU?

Passado uma semana do acesso às urnas e ainda se fala em eleições. E, como o assunto é meio desagradável - pelo menos para uma boa parte da sociedade - o jeito é falar de eleições de modo (se é que pode dizer assim) agradável. E como ser agradável ao leitor quando este não gosta? Então, o jeito é perguntar: será que acabou?

Recebi outro dia de um amigo um texto com o título 'AFF! Acabou' - parece que até os mais acostumados com o assunto também se cansam. Será? Ou sabem que na realidade não acabou, está apenas começando mais uma nova etapa?

Sabem que uma nova etapa em breve se iniciará em âmbito nacional - querendo ou não, tendo em vista que os novos ocupantes serão do mesmo partido de agora - mudanças ocorrerão: novas velhas cabeças. E, como é sabido: novos no poder, novos nos poderes menores farão parte, pois cada um que passa pelo poder quer deixar sua marca: trocar ministros, ajustes dos secretariados, e outras coisas mais - pois a marca tem que ficar!

Passamos a semana toda ouvindo discursos e mais discursos - será que o povo brasileiro acreditou? Tanto se fala (e não é de hoje) e pouco se faz - gostaria o povo brasileiro de ouvir menos discursos e mais ações, independente do partido que ocupe o poder. Bastaria fazer cumprir o que manda a Constituição e mais da metade dos problemas estariam resolvidos - a outra metade: correríamos atrás. Mas é sabido que não é assim; a realidade é outra, mesmo sabendo que o poder vem das mãos do povo, ainda mais num país onde se prega a democracia. Mas a máxima do povo brasileiro se faz presente: ser brasileiro é não desistir nunca!

Agora se inicia um período de transição de governo e a base aliada se movimentando, correndo atrás de quem foi eleito: do poder! E aqui na base da pirâmide - os munícipes, como estes ficam? Já é sabido: sem cargo (ou com um forte encargo na consciência dependendo do resultado dos próximos anos). Ainda aqui no município: iniciam-se os barulhos eleitoreiros para o próximo pleito.

Então, será que acabou? Claro que não - política não se acaba; todo dia se renova; todo dia evolui; todo dia abre e fecha portas. Findou-se outubro e novembro se inicia com belos discursos de quem venceu um pleito; mas também não se pode esquecer os entes queridos que se foram (pois estes também lutaram por causas nobres); não se pode esquecer que estamos num mês de grande valor democrático para o cidadão brasileiro: proclamação da república, dia da bandeira; e ainda: precisamos sair do papel e ir à luta contra o preconceito racial - o dia da consciência negra. Fala-se muito, pouco se faz: e não é apenas na cor, mas de forma geral há muito ainda a discutir.

Portanto, será que acabou? Novamente pode-se afirma que não, tendo em vista que a maior política que um cidadão pode fazer com o seu concidadão é respeitá-lo em seu todo: físico-psicologicamente. Só assim alcançaremos bons resultados, só assim sairemos das urnas mais que vitoriosos: sairemos verdadeiros cidadãos brasileiros.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 06/11/2010 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.  

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