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MÊS MAI 2017 - DIAS 06 - 13 - 20 - 27 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

NO TOPO (27/05/2017)

Pensar em ficar no topo, é pensar em ficar nas paradas de sucesso - mas a vida não é assim sempre, apresenta alguns diferenciais que nem sempre quem chega ao topo pensa. Não é apenas chegar ao topo e ficar admirando a paisagem (como se estivesse no topo de uma montanha), é preciso lembrar que o sucesso é uma estrada na qual você chega para caminhar (não pode parar quando alcançar...).

Nos parágrafos a seguir, uma pequena reflexão sobre estar no topo - que, apesar de determinadas regalias que a vida proporciona por estar lá, às vezes pode custar um preço alto - e por isso tem que fazer valer a pena quando se alcança o sucesso - e independente da área que almejou alcançar.

Nos fins de todas as tardes dirigia-se sempre até o mesmo banco da praça. Sentava e ficava olhando para cima: o topo daquele prédio; sonhava estar lá. Queria conquistar o topo da montanha, usar gravata; mandar e desmandar; comprar uma mansão, ter belos carros, ter serviçais por toda parte - na empresa e em casa, poder viajar tranquilamente sem lembrar necessariamente das contas de fim de mês (ou melhor, de início de mês). Todo dia sonhava ao sentar no mesmo banco e observar o topo do grande prédio!

Certa tarde chegou mais cedo: tinham mandado alguns garis embora - ele estava no meio. Ficou triste e nem demorou muito no banco olhando para o alto do prédio, logo foi embora. No outro dia, pela manhã, sentou no mesmo banco e pôs-se a olhar para o alto. Olhou atentamente para o topo do prédio. A sua mente viajou por várias esferas do conhecimento - e ele tinha conhecimento, não tinha tido ainda oportunidade. Lentamente desceu o olhar até deparar com uma placa: Precisa-se de office-boy.

Levantou-se lentamente, pensou, tomou coragem e entrou no prédio. Conseguiu o emprego. Era esperto e logo ficou por dentro de todos os assuntos da empresa; era competente, subiram-no de cargo. Passou a ser secretário, depois administrador. E, de repente, bateu na porta de sua sala uma senhora: solicitava aumento - ele tinha que resolver, trazia em sua mesa uma pequena placa de administrador, gerente. Sentiu que ela queria chegar também ao topo, e, sem muito pensar, logo a despachou apontando motivos banais.

No outro mês se viu apertado por uma gravata, sentado em uma cadeira de espuma forrada por um pano de veludo vermelho, com uma nova placa na mesa: Diretor-Sócio-Proprietário. Vê-se só na sala. Vai embora. Todos o adoram e o respeitam para que não os mandem embora. Quase aquela vertente que não passa sem ser percebido: os tais bajuladores; puxa saco - ou fazer o melhor para não perder o pão de cada dia.

Em casa faz uma varredura em sua mente - alguns meses já se passaram - melhor: três anos. Sua casa é muito grande, não consegue ter a dimensão real do que tem - melhor do que sonhara; ouve apenas e tão somente os ecos de seus passos. Lá fora o cão late - um cão já velho que fora a pedido de uma amiga agregado à casa - e que não servia de nada, pois pouco latia - e costumava dizer que apenas estava ali para comer...

Volta à empresa, senta na cadeira de espuma forrada por um pano de veludo vermelho, solta o nó apertado da gravata. Já é fim de tarde, olha da janela para o banco onde tempos atrás estivera sentado: uma senhora está olhando para cima. Será que ela quer chegar ao topo, porque ele quer descer - e ser feliz de novo só olhando para cima.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 27/05/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

LEMBRANÇAS DO CASARÃO (20/05/2017)

Olhou para um lado, para o outro e se viu sozinho novamente. Não era a primeira, nem a segunda vez que isso acontecia. Dizer que acostumara com a ideia, não podia dizer. Todos se foram - sentiu o casarão totalmente vazio. Adotou um cão, depois mais outro, pássaros, peixes e plantas. E um monte de costumes que nunca tivera antes.

Vasculhou cuidadosamente cômodo a cômodo do casarão e um vazio, assim como o que acabara de ver, também tomou os seus sentimentos. Pensou: cada um tem que seguir a sua própria vida - são as escolhas. Ele também fizera uma escolha (e cada escolha traz consigo uma consequência). E, para não sentir-se totalmente vazio, fez as adoções acima: animais, plantas, costumes desnecessários. E por alguns foi apelidado de 'o senhor estranho'.

Pôs reparo no casarão - lembrou-se do Bruxo do Cosme Velho (preparou um velho latão onde queimava suas correspondências, seus escritos/rabiscos e documentos que não usaria mais): fez ajustes e mais ajustes que achou necessário (e desnecessário) - desde mudanças de portas, de cômodos, de mobília, de lustres e, por fim, até das cores das tintas nas paredes. Algumas verbas foram tiradas do bolso para os reparos, outras ele mesmo as fez. E, se alguém falava alguma coisa, retrucava logo a seguir - como sempre fizera em qualquer assunto.

Um aparte: para quem não conhece a história do citado acima - Bruxo do Cosme Velho - refere-se ao escritor Machado de Assis, que está entre os maiores escritores brasileiro e fundador da Academia Brasileira de Letras. A origem do termo não é certa: a estranheza causada por um hábito de Machado causou um burburinho na vizinhança, e agora ganhou o mundo eternizado por Carlos Drummond de Andrade quando fez uma homenagem ao escritor em questão. Segundo a doutora em Literatura Brasileira, Deise Freitas, o autor gostava de queimar as cartas, manuscritos e documentos acumulados no jardim de sua casa, mas não com métodos discreto: os papéis eram incendiados num caldeirão de bronze.

Os vizinhos, assim como fizeram com o cidadão Machado de Assis, estranharam o fato de, vez ou outra, sair grandes quantidades de fumaça dos fundos do casarão que, em situações urbanas, preenchia o meio da quadra. Aos poucos, também, foi se distanciando das conversas diárias que mantinha com antigos moradores. Foi se isolando, mas cada vez mais os agentes dos Correios frequentavam a sua casa com grandes quantidades de envelopes - de todos os tamanhos, e embrulhos variados. (devia ser o material enviado, e descartado, que passava pelo fogo!)

Determinado ano, próximo à metade do último mês do ano, o casarão tomou cores diferentes e luzes de Natal foram instaladas por toda a fachada - situação que há mais de década não acontecia. No jardim, alguns bonecos foram instalados com a representatividade do ato natalino - mas o que mais chamou a atenção e que não me esqueço desde que vi, foi o enorme castelo que foi fixado no meio do jardim, ao lado das imagens natalinas. E tal castelo fora feito todo em peças de plástico que crianças gostam de brincar para montar as mais diversas coisas. Fiquei imaginando quanto tempo e a quantidade de peças que tivera que usar...

Tais lembranças do casarão nunca passaram da minha mente e hoje guardo comigo o desafio de criar - num futuro breve - um castelo como o do casarão. E fico a imaginar como as crianças aqui de perto se sentirão ao ver tal maravilha! Espero não perder tais memórias...

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 20/05/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

ÀS VEZES (13/05/2017)

Às vezes paramos para fazer um balanço de nossa vida, ou de determinado período dela, e sentimos que algo - ou alguém que tivemos, está fazendo falta. Por um motivo ou outro não temos mais, e até certo ponto é normal (ou, como alguns dizem: se não está mais é porque não era pra ser nosso...), mas como sanar? Quanto às pessoas, elas fazem muita falta em nossa vida quando se vão por um motivo ou outro - mesmo que em algum momento a companhia delas (de algumas) era desagradável. Mas são pessoas e merecem perdão.

As coisas, por exemplo, também podem nos fazer falta - principalmente as que tivemos e as perdemos por algum motivo. Às vezes, os motivos pelos quais as perdemos são tão fúteis que o arrependimento pode bater, mas já não é possível - pois nem sempre é possível, ou viável, retomar as coisas, ou situações. E a dor - fiel companheira do homem, aparece e mostra que nem tudo é como desejaríamos que fosse.

E, às vezes, fico a imaginar determinadas coisas coisadas cheias de coisinhas (dentro de uma caixinha, ou até mesmo fora!) - que só eu mesmo para pensar assim sobre. São, estas coisas coisadas, coisinhas que poucas pessoas pensam - ou param para pensar. Podem até vê-las, mas não pensam friamente sobre. Quem pensa sobre determinadas coisas que passam despercebidas são os que gostam de escrever - os observadores de plantão, como costumo chamar aqueles que têm vontade de escrever (ou não).

Os observadores - os escritores, prosadores, poetas - por assim dizer, gostam de detalhes, por isso observam muito. Questionam a si e ao mundo - e sem medo de ser feliz, e, às vezes para conseguir penetrar mais no assunto em questão e poder escrever sobre posteriormente. Às vezes, querem mais, mas ficam apenas no 'às vezes'. Essa tal palavrinha - às vezes - muitas vezes acaba atrapalhando, e muito!

E atrapalha tanto que, às vezes, sentimo-nos dentro de uma bolha - e quem nunca se sentiu como se estivesse preso dentro de uma bolha? Pois bem, creio que há horas que nos sentimos dentro de uma bolha (determinada situação quase que sem saída) e queremos uma saída. Outras vezes, sentimo-nos na necessidade de criar uma bolha e estar dentro dela para não termos problemas. Complicado as situações.

E não adianta querer dizer que a bolha é a melhor saída - e nem adianta revelar frescor de inocência (pois no frescor da inocência que muitas coisas acontecem). Na inocência criamos várias situações que poderão causar nostalgia aos outros, (e não adianta dizer que estamos 'no frescor da inocência'). Prefiro a não inocência pelo simples fato de ser dono dos meus atos, por poder escolher o que fazer, ou não. A inocência - gostaria eu, de deixar para os que se acham ingênuos - e como há ingênuos nesse mundão de Deus!

E, retomando o assunto da bolha, estar em uma bolha pode parecer estar longe de muitos problemas, de situações embaraçosas - mas, na realidade, é apenas momentânea, pois logo tudo volta e haverá a necessidade de se enfrentar, querendo ou não. A bolha nos afasta da realidade - pergunto: por que afastar se, não tão longe, teremos que dela sair? Pense e não entre em bolhas, enfrente a realidade.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 13/05/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

A SENSAÇÃO DA VELOCIDADE (06/05/2017)

Você já imaginou o poder que as palavras têm? Imagine o poder da palavra velocidade! Já imaginou a sensação que traz? Imaginou? É sobre isto que vou escrever, melhor, sobre esta sensação que vou tentar fazer o papel em branco sentir. E, posteriormente, fazê-lo, caro leitor, sentir também - pois assim é o ofício do rabiscador de palavras, que nem sempre são jogadas ao vento - e, mesmo que jogadas ao vento, podem trazer boas histórias.

Sentir a velocidade com que a caneta discorre sobre o papel; pensar sobre o ato da velocidade das ideias que me aturdem neste momento - são ideias que não se aceitam entre si! São ideias que discutem entre si o termo final - se é que há final. Às vezes, absurdas; outras vezes, ultrapassadas; ou redondamente ingênuas; ou ainda, terríveis, maléficas - mas não deixam de ser ideias! São ideias a toda velocidade! Sensação terminantemente horrível! Sensação de - melhor não explicar, melhor cada um deduzir como...

A velocidade dos fatos na vida é marcada por sensações esquisitas. E coloca esquisito nestas sensações! Umas são tão cruéis, mas tão cruéis, que nos marcam a vida toda - jamais as esquecemos e ainda tiramos ensinamentos; outras são como nuvens carregadas de gotículas que passam após cumprirem seu papel - às vezes suave, ou às vezes grosseira. E nós? Qual a velocidade nossa ao passar pela Terra?

Já imaginou? Já imaginou a velocidade pelo qual você passa por este planeta que denominamos de Terra? Parou para pensar que algumas pessoas passam por aqui e não sabem o que estão fazendo? (Estão completamente sem noção de tempo e espaço.) Ou de onde vieram ou para onde vão - questões filosóficas ou religiosas? Isto é velocidade. Pare, pense: qual será a sensação quando imagina os fatos supracitados?

Ainda, como diz o velho e bom ditado popular: que marca deixou na Terra para as próximas gerações? Teve filhos (manter a semente humana na Terra), plantou uma árvore (de preferência frutífera), ou fez algum invento? Escreveu algum livro? Quantas perguntas... Até poderíamos usá-las para realmente verificar se deixamos alguma marca na Terra. Verifique, caro leitor, se não fez nenhuma das citadas acima, tente achar uma, ou passe a fazer.

Velocidade. Mais um mês se findou... Se foi como outros tantos que já se foram... Ou ainda outros que virão. Tudo é velocidade. O tempo urge! O Tempo não é dono de si. Nós não somos donos do tempo - apenas tentamos administrá-lo. É tempo correndo atrás do tempo... Até quando? Nós corremos; trabalhamos o tempo todo em alta velocidade - quando não é no trabalho duro do dia a dia, é em casa, na rua, ou curtindo férias... Não paramos de pensar: como será o próximo mês, ou o próximo ano? Melhor? Pior? Melhor, pior... Teremos que recebê-lo de braços abertos e torcer para sermos felizes. Felizes à toda velocidade (...).

Por que será que, às vezes, de tão veloz que as coisas acontecem, ficamos mais velhos que a nossa idade - e não percebemos - ou, talvez, tenha morrido em alguma curva do caminho (antes da metade). E, para pensar melhor - como alguns comentam: Por que será que na eternidade a vida perde a dimensão de tempo? A realidade nos cobra com crueldade os segundos pelos quais aqui passamos.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 06/05/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

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