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MÊS FEV 2017 - DIAS 11 - 18 - 25 (Textos publicados na minha Coluna 'ESCREVER... É ARTE'.)

NÃO CONHECEMOS AS PESSOAS (25/02/2017)

Nem sempre conhecemos as pessoas - digo melhor: podemos viver tempos e tempos e nem assim conhecemos profundamente as pessoas. É como diz um velho dito popular: se vive anos e mais anos ao lado de alguém e nunca saberemos ao certo quem ela é. Agora imagine quando você acaba de conhecer alguém e aos pouco vai descobrindo o potencial que essa pessoa tem - você acaba se deslumbrando.

Esse deslumbrar significa muitas coisas: do nada ao tudo! E do 'nada ao tudo' significa uma grande escalada em descobertas, em potenciais, em tudo. Jamais conseguimos medir o que cada pessoa consegue desenvolver na vida - e é esse deslumbramento que leva o ser humano a buscas constantes. Tanto do lado de quem busca, como pelo lado de quem está sendo buscado - é um processo de reciprocidade.

Outro dia estava a conversar com determinada pessoa e ela não me parecia tão empenhada em determinada assunto que eu estava tratando - vamos por assim dizer, mas com o passar do tempo descobri que a pessoa em questão tinha (e tem) um potencial enorme, apenas se sente no direito de não se expor - o que é natural. Mas nem sempre achamos tal fato natural, queremos, às vezes, que o outro se entregue de corpo e alma, coo se diz por aí.

Agora, pensando bem, com quantas pessoas vivemos, convivemos, e às vezes passamos boa parte da nossa vida ao lado delas e nem notamos (ou não pesquisamos) o potencial que elas têm. Incrivelmente somos assim: não ligamos em profundo para o outro (ou outra) que está ao nosso lado - mas o tempo passa. E mesmo o tempo passando, não conseguimos descobrir na íntegra o outro. Somos, por excelência, uma criatura cheia de entraves, de acobertamentos. Talvez uma criatura um pouco medrosa.

Isso pode ser notado a partir de observações mínimas da vida humana, do relacionamento humano. Como professor observo que determinados alunos pendem em seus escritos para determinadas áreas do conhecimento (e nem sempre são acatados por outros professores); às vezes, depois do ocorrido, também olho para dentro de mim e noto que falhei na hora de acatar as opiniões alheias escritas ali - e, muitas vezes, pedindo socorro.

E, quando digo: pedindo socorro - refiro-me ao fato de o cidadão em questão estar mostrando nas entrelinhas que precisa de alguém para que o oriente, ou até mesmo para lhe estender a mão amiga e caminhar lado a lado. Que está precisando de um ombro amigo para trocar algumas ideias. Que precisa de alguém para se sentir valorizado. Que precisa de alguém que lhe diga que é preciso continuar a caminhar. Pecamos muito nesse sentido.

Mas nem tudo está perdido - não somos de todo ruim, temos muitas coisas boas, e coloca-se muitas coisas boas no ser humano. Outro dia também ouvi de uma aluna dizendo a outra: pergunta ao professor, ele é um bom conselheiro. Parei o que estava fazendo, pensei alguns minutos sobre tais palavras... Correu-me centenas de milhares de pensamentos naquele momento e conclui que os alunos nos observam mais do que achamos. Não me contendo, olhei para as duas em questão, e balbucie: precisam de alguma coisa? (E fiz o que pude para auxiliá-las.)

Como é incrível a nossa vida: pensamos muito e agimos pouco. E quando resolvemos agir nem sempre em tempo - às vezes estamos adiantado para aquela situação, mas na maioria das vezes chegamos atrasados. Como fazer? Eis a questão, não é mesmo? Mas precisamos fazer - é a única coisa que tenho certeza: que precisamos sempre agir; que precisamos sempre fazer. Então, pensando bem, vamos observar mais quem está ao nosso lado para, num futuro bem próximo, consigamos conhece-la um pouco mais profunda - pois no todo é impossível!

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 25/02/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

ENSAIANDO A VIDA (18/02/2017)

Já ouvi dizer que a vida é um ensaio - e sem volta, pelo menos para aqueles que acreditam apenas em uma vida na terra. Creio que sim, a bem da verdade. Dizem também, que é na infância que aprendemos grande parte das coisas que vamos usar nos próximos anos de nossa vida - depois, passamos a aperfeiçoá-las.

O que vivemos na infância, dizem alguns, que parece ficar para sempre em nossa memória - pelo menos para boa parte da população. Eu, particularmente, não me recordo de muita coisa, mas do que recordo tenho comigo de forma prazerosa. Tão prazerosa que costumo, na maioria das vezes, sorrir com tais lembranças.

Na infância aprendemos a brincar - e na casa de vovó Chiquinha a festa era constante. Vermelhão brilhante no chão e nós, os netos, escorregando pra lá e pra cá. E, nesse ir e vir, trago comigo uma cicatriz na testa: um acerto de minha cabeça numa das quinas da rampa de subir o carro. Minutos depois, voltava a escorregar. Ali, na infância, também conheci a dor e o prazer, a raiva e o carinho.

Foi na infância que também aprendi a fazer amigos - embora não tenha tido muitos (mamãe não me deixava sair muito de casa para ir brincar nos vizinhos). Aprendi a respeitar as diferenças que tínhamos - os poucos amigos. Aprendi, nos ensaios da vida, a criar amigos imaginários - e dos mais variados tipos, dos mais variados lugares possíveis: de perto e de longe. A leitura, incentivado por mamãe - e posteriormente pela escola, criava em mim a vontade de criar, de inventar, de ensaiar a vida, e esta em todas as dimensões.

Adolescência, um pouco assustadora, deixando de lado a leveza da criança e incorporando passo a passo as incertezas, a vida - pra mim - tomou outro tom: trabalho diurno e escola noturna. E, assim, a responsabilidade foi pesando sobre os ombros, tomando o corpo num todo. A vida ensaiando as suas cores mais fortes - e, possivelmente, mais vivas. E, além de trabalho e escola: hora de tomar decisões - um curso superior.

E em tons mais fortes ainda, a adolescência foi tomando corpo. As paixões acontecendo - a vida acontecendo, a vida continuando... As descobertas cada vez mais distantes do ninho materno. E, com as distâncias, as decepções também acontecendo - fazendo parte do amadurecimento. Aproximando da vida adulta. Aproximando de um amadurecimento maior, talvez até alcançar a provável perfeição - ou não.

Na vida adulta as histórias são outras. São histórias sem fim - ou, começam e vão se estendendo, se estendendo... Possivelmente ficarão para a eternidade. São paixões e mais paixões que, pouco a pouco, foram sendo contornadas, algumas se tornaram amores, mas - como diz o poeta Vinícius de Moraes em seu belíssimo Soneto de Felicidade - última estrofe: "(...) Eu possa me dizer do amor (que tive): / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure". E se perderam nas asas do tempo.

E nos ensaios da vida - como quero acreditar, não tem volta. São ensaios que permanecerão para sempre no livro de minha vida, livro este que recebi em branco e estou, dia a dia, registrando os ensaios sem volta que a vida me proporciona. E, a partir das reflexões, tento não errar mais se outras chances houver. 

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 18/02/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

REALIDADE E FICÇÃO - ONDE SE ENCONTRAM? (11/02/2017)

Escrever sobre a realidade pode ser pura ficção - escreve-se ficção a partir da realidade: onde a ficção e a realidade podem se encontrar? Pode ser intrigante do ponto de vista de quem não conhece o assunto, por exemplo: como fazer uma criança entender que o texto produzido em primeira pessoa (eu) não se refere a ela, mas sim a um 'ser' criado para representá-la?

Costuma-se sempre dizer que não é nada fácil para uma criança entender este processo - mas não é somente a criança. Para tal, fazer a criança, ou um maior, entender que não é possível o ser humano se materializar, torna-se um processo um tanto mais fácil de ser compreendido. Digamos que posso fazer a criação de um ser que vai me representar no texto porque eu não consigo 'tornar papel'. E, a partir desta ideia, posso inventar um mundo e estar dentro dele representado por um ser - ou seja, por um personagem, que posso chamar de 'eu'. E até posso dar-lhe nome. Ou, o meu nome passa a ser o nome do meu personagem.

Podendo fazer isso, podendo criar um mundo e colocar alguém para representar-me - um 'eu' criado por mim, logo posso dar asas a imaginação e criar - fazer ficção à vontade. Inventar à vontade. Vários autores escreveram os seus textos em primeira pessoa - e, no entanto, nem sempre os representam em sua totalidade, mas sim em possíveis observações próprias - e do leitor atento que pode, se tiver conhecimento da vida do autor, encontrar 'pedaços' da vida do autor ali representado na ficção que estiver a ler. Vale observar que, do meu ponto de vista, quando se lê um texto autobiográfico, lê-se uma ficção.

Para se compreender melhor, o cinema dá-nos boas obras sobre o assunto - ou, melhor dizendo: ficamos em dúvida se é realidade ou ficção (vale lembrar que o cinema foi criado para emocionar, impressionar, cativar, amedrontar, divertir). O cinema faz com que a realidade e a ficção tornem-se cada vez mais perto, o limite estreito: o cineasta trabalha casos reais, retrata-os e ao mesmo tempo tem em suas mãos o poder de construção da realidade e dessa forma consegue manipular sua matéria-prima em um produto audiovisual. Vale lembrar de "À procura da felicidade", "Gonzaga: de pai pra filho", "O discurso do Rei" - filmes que comparam a realidade com a ficção, dramatização.

Partindo do princípio citado que a ficção se faz a partir da realidade, vou usar como exemplo um dos grandes mestres da Literatura - Machado de Assis, e os personagens contidos em sua obra A Cartomante. Obra de elevada eloquência, o autor traz à tona a mesquinhez social, o adultério, o amor proibido - sentimentos amorosos sem esconder os devaneios e loucuras amorosas. Na obra, que retrata um triângulo amoroso (Rita e Vilela - casados, e Camilo - o amigo do casal, que está tendo um caso com Rita), cada personagem é criado a partir de observações da realidade, de observações de uma sociedade hipócrita em que o autor, Machado de Assis, estava inserido. Mas quem nos diz tudo é um narrador (onisciente). Mostra-nos uma visão objetiva e pessimista da vida, do mundo e das pessoas - onde notamos que não existe um final feliz.

Logo, retomo as palavras que sempre cito aqui na coluna: escrever é uma arte. Escrever é viajar - muitos autores e estudiosos dizem isso - e quem realmente pensa assim e age assim vai criar ficções maravilhosas, partindo sempre da realidade. Vale lembrar que o melhor a fazer é partir do que temos conhecimento, do mundo que nos cerca, para criarmos nossos mundos.

Prof. Pedro César Alves - Publicado em 11/02/2017 - em O LIBERAL REGIONAL, Caderno ETC, p. 02.

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